terça-feira, 27 de novembro de 2007

Nunca com os pés no chão..

Sente no corpo as dores da arte não expressada, do dom não manifestado. Sem habilidades para traduzir sua sensibilidade ao mundo, guarda pra si a visão delicada e assombrosa que tem da vida. Faz do toque físico uma válvula de escape pra sua alma inquieta e ardentemente pulsante. Ardente que queima e assim tenta marcar outros corpos, ao passo que transfere um pouco de sua existencia (segundo sua propria afirmação) insignificante. Sonha muito e sente-se incapaz de realizar. Dança para, como quem se livra das angústias, esvaziar sua mente das decepções. Se realiza quando, sentada frente ao espelho, se maqueia e se sente bela. Usa ornamentos onde e quando pode pra traduzir o brilho que não encontrou na sua alma. Sempre que possivel acende um cigarro e com a mesma ansia de vida quem tem, tragando a fumaça até o ponto mais profundo de seu peito, a solta admirando-a como uma peça de arte esculpida pelas proprias emoçoes. Como se tivesse a sensação de que a fumaça, somente ela, chegasse onde nada nem ninguém alcança e fosse de certa forma sua cúmplice e aliviadora pois leva consigo um pouco do peso do que carrega dentro de si. Teme a solidão. E tem postura egoísta por sentir-se incompreendida e, por temer que após adentrar seu universo particular, além de a abandonar, levem sua sanidade. Sente que ser sensível, entre os seres humanos brutalizados, é uma forma arriscada de responsabilidade e se frustra por não se encarregar bem da tarefa. Seus olhos são como porcelana que lhe proporcionam uma visao fragil do mundo (e por vezes de si mesma), incubindo-a de traduzir sua perspectiva para assim agregar algo à humanidade. Mas mantem-se inerte, presa às auto-cobranças padronificadas. Encontra-se sempre à beira de vomitar uma proeza, de obter um insight que a liberte, mas as amarras limitam sua criatividade e a transforma em dores físicas. Sintomas de todo tipo a distraem da verdade mais inegável: ela não é igual a todos. Sem qualquer conotação, (positiva ou negativa) o fato é que ela não é comum! É perceptível que ao lado de uma alegria e espontaneidade que chegam a encantar, caminha uma melancolia crônica e incompreensível. Já pelo formato de seus olhos é possivel notar a dualidade constante com que percebe as coisas... ao mesmo tempo em que se deslumbra com a dádiva da vida, se acua e sente como se de uma hora pra outra pudesse ser engolida por algo terrível. A vida, o ato de viver a fascina, mas o mundo e suas facetas a assombram. A vida é um presente; o mundo um jogo e... viver: um dom! Em contrapartida há momentos em que fica dificil entender se ela ama demais a vida e vive aterrorizada com a possibilidade de algo tirar-lhe esse direito, ou se esforça pra manter agarrada à vida para não assumir pra si mesma que não quer encará-la... ansiedade de uma jovem alma sonhadora, se perde entre tantos questionamentos. Entre as teias da juventude sofre, simplesmente por falta de experiência. Assim como um filhote, busca sua sobrevivencia imitando aos mais velhos (ou mais próximos), compreensível. Mas sua tão deseja autonomia e realização só acontecerão quando compreender que, entre os racionais (e emocionais) nem sempre encontraremos um espelho adequado... e ela chora, porque não conseguir sorrir! Não sabe se o mundo não tem nada a lhe acrescentar, ou se ela quem está vazia!
Pra ela existir é sempre assim, tão feliz quanto triste... ambos de forma, inverbalizavelmente, intensas... sente-se a um passo da loucura.
... Ela queria fazer arte.

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